segunda-feira, 22 de julho de 2013

Calca-mar Seguro

António José Seguro cresceu nesta crise, para além do expectável.

O principal vencedor desta crise chama-se António José Seguro

Continuo convencido de que Cavaco Silva colocou uma mão por baixo do líder do PS, e que o cold call ao bluff de Paulo Portas foi mesmo uma jogada de grande frieza e cálculo, que mostrou o jogo vazio do ainda líder do CDS/PP, que colocou a liderança de Passos Coelho numa cápsula de tempo com prazo de validade escarrapachado no rótulo, e que, por fim, aposta claramente num período pós-Troika cor-de-rosa, desde que liderado por uma nova geração sensata e sobretudo capaz de começar a construir pontes que aguentem as tremendas pressões a que o país inteiro estará sujeito nos próximos anos.

Pela centralidade histórica de que um partido socialista que soube a tempo meter o socialismo na gaveta goza, permitindo-se com à vontade único estabelecer compromissos à esquerda e à direita, o PS é o partido que se segue na governação de Portugal, tendo, porém, para tal, que começar desde já a construir uma complexa topologia de compromissos realistas, e sobretudo de inovação política e democrática, com toda a sociedade, sobretudo com o PSD, e ainda com o Partido X que falta surgir no espectro partidário, para potenciar uma rápida evolução cultural da praxis política no nosso país.

Esta crise foi uma prova de fogo para António José Seguro. E devo reconhecer que, depois de o ouvir esta noite (em entrevista conduzida pela rebelde mais sexy da televisão portuguesa — Ana Lourenço) explicar ao país como conduziu as operações do PS na resposta ao desafio lançado pelo presidente da república, que o PS ganhou finalmente um líder, a quem os cagarros e as tríades deixarão em breve de fazer sombra. O espectáculo lamentável dado por Mário Soares, Manuel Alegre, José Sócrates e António Costa voltou-se já contra eles, e irá enterrá-los paulatinamente ao longo dos próximos meses.

Diz-me a intuição que a semana que passou, embora sem compromisso histórico, nem salvação nacional, pode ter abalado definitivamente o pântano partidário indígena. Oxalá!

Os negociadores Alberto Martins, Jorge Moreira da Silva e Pedro Mota Soares foram encarregados duma missão impossível. Mas saíram-se bem. O que o país realmente ganhou por ter tido estes três políticos sentados à mesma mesa buscando um compromisso foi muito mais importante do que a assinatura formal de um acordo que, na realidade, seria eleitoralmente desvantajoso para o PS, pois recordaria a todos que o PS, nomeadamente aquele que José Sócrates chefiou, foi um dos principais responsáveis pela pré-bancarrota de Portugal, mas também para Passos Coelho e Paulo Portas, para quem tal assinatura seria o mesmo que um despedimento com data marcada.

É por isso que eu creio que o senhor Aníbal Cavaco Silva, que nunca foi tolo, atou bem este atado, condenando a situação podre da coligação ao limbo, e começando desde já a trabalhar com o futuro PS, com o futuro PSD e até com o futuro CDS/PP (se resistir).

Para quem não entendeu, está finalmente explicada a expressão 'pós-Troika'!


NB: o professor Pardal da TVI é mesmo, como um dia lhe chamou Manuel Maria Carrilho, pura gelatina política. Então não é que a criatura anda desde o inicio da crise a candidatar-se descaradamente à presidência da república, rastejando diante de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas? Haja alguém que lhe explique que um divertido comentador de televisão raramente faz um bom político, quanto mais um presidente!

António Cerveira Pinto


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