sábado, 20 de julho de 2013

Plano B

Paulo Portas precisa de crescer, ou desaparece

Escolher outro primeiro ministro do PSD, convocar eleições, ou aceitar o plano de Portas?

Para o Presidente da República, e por boas razões —que o cacique Mário Soares ignora— um governo de sua iniciativa “está totalmente excluído porque desde a revisão constitucional de 1982 que os partidos deixaram de responder politicamente perante um Presidente. Se um governo responde perante a Assembleia da República, então não faz sentido qualquer Governo de iniciativa presidencial.”

Para o Presidente da República, o actual Governo encontra-se “na plenitude das suas funções”.

No dia 10, o Presidente da República disse que, com a eventual ausência de entendimento interpartidário, os portugueses poderiam “tirar as suas ilações quanto aos agentes políticos que os governam ou que aspiram a ser governo”.

Prever é, na maioria dos domínios, uma arte que depende do grau de precisão pretendido. O mundo pode acabar de um dia para o outro, não sobreviver ao passar deste sábado, por exemplo, mas afirmar que amanhã será mais um domingo para milhares de milhões de pessoas continua a ser uma espécie de certeza de que ninguém duvida. Prever que amanhã será, em todo o planeta, o derradeiro domingo para mais ou menos 153 mil criaturas da espécie Homo sapiens faz parte do que chamamos uma verdade estatística. Afirmar que no próximo segundo desaparecerão 1,78 pessoas da face da Terra é o que se chama certeza probabilística. No entanto, prever qual vai ser a decisão de Cavaco Silva depois de consumada a farsa negocial entre os três partidos responsáveis pela Constituição que temos, pela adesão à União Europeia e ao euro, pelos sucessivos PEC e pela assinatura do Memorando que baliza o resgate do país da situação de bancarrota iminente em que se colocou, cortesia da nomenclatura parasitária do regime e da partidocracia populista que temos, é praticamente impossível. Quanto muito podemos fazer apostas:
  1. Cavaco convoca eleições antecipadas;
  2. Cavaco mantém governo e aceita remodelação proposta por Passos e Portas;
  3. Cavaco mantém governo mas negoceia a remodelação;
  4. Cavaco não aceita remodelação de Passos e Portas, e exige a manutenção de uma razoável proporcionalidade partidária na composição do governo remodelado, em nome dos resultados eleitorais que proporcionaram a atual coligação;
    1. Passos e Portas aceitam ultimato de Cavaco, e temos a coligação recauchutada;
    2. Passos e/ou Portas não aceitam o ultimato e demite(m)-se;
    3. Cavaco chama de novo o PSD a formar governo, dando-lhe o prazo máximo de uma semana para o conseguir apresentar uma solução aceitável e conforme aos resultados das últimas eleições;
    4. Passos, ou outra personalidade do PSD, lidera a formação do novo governo, ou...
    5. ...então, perante a(s) recusa(s) de Passos ou/e Portas de aceitarem um novo primeiro ministro, Cavaco dissolve finalmente o parlamento e convoca eleições legislativas antecipadas, coincidentes com as Autárquicas.
Que vai ser, então? Alguma das hipóteses acima enumeradas, ou espera-nos, como diria Hassim Nicholas Taleb, um cisne negro? Isto é, algo totalmente imprevisível?

As próximas eleições, autárquicas, ou autárquicas e legislativas, poderão destruir o CDS/PP e deixar o PSD abaixo dos 20%, sem que o PS ganhe a diferença perdida pelos partidos do governo. Uma tremenda abstenção e uma mais do que previsível campanha pelo voto branco, de protesto contra a irresponsável, incompetente e corrupta partidocracia que nos conduziu ao desastre, poderá deixar o país numa situação ingovernável, com múltiplas cisões a percorrerem os indecorosos partidos políticos que fomos sentando na Assembleia da República ao longo das últimas quase quatro décadas de democracia corporativa e populista. 

É porque este cenário não deixa de ser verosímil que Passos e Portas não querem eleições. E é por este mesmo motivo que Portas quer mais poder no governo, invocando a necessidade de salvar o seu partido de uma extinção eleitoral. Por fim, é este mesmo cenário que coloca António José Seguro na corda bamba do seu próprio partido. O pobre homem quer uma maioria absoluta. E se não tiver, que é o mais provável, que faz? Entrega o poder às ratazanas do partido?

PS+Partido X+PSD

Que cenários pós-eleitorais se podem prever para 2014, ou 2015?
  • Um governo PSD-CDS/PP é altamente improvável, pois as perdas eleitorais destes partidos serão enormes.
  • Um governo PS-CDS/PP é altamente improvável, pois o CDS/PP terá sido varrido do mapa.
  • Um governo PS é altamente improvável, primeiro, porque ninguém se esqueceu de quem atirou Portugal para o buraco, e segundo, porque não se pode confiar num líder tão fraquinho e disléxico como de facto é António José Seguro.
  • Um governo PSD-PS é uma possibilidade, desde que PS e PSD corram com os atuais líderes e escolham novos protagonistas, mas não deixa de ser improvável, tendo em conta que os políticos em funções tenderão a agarrar-se ao poder como nunca; e que os candidatos alternativos têm pouco tempo para aparecer e mostrar o que potencialmente valem.
  • Um governo tripartido PS+Partido X+PSD, significaria que em breve teríamos que ter uma nova força política e partidária, pragmática, responsável e capaz de operar consensos difíceis. Faz sentido, mas haverá tempo suficiente para preparar uma nova plataforma de ação política e governamental? Chegará o asco que cresce na sociedade civil, para encorajar os muitos que hoje acreditam que o país não tem saída sem uma recomposição do espectro partidário, que por sua vez induza alterações profundas nas filosofias de ação dos sindicatos e organizações empresariais, cívicas e culturais?
Uma coisa parece certa: a decisão que Cavaco Silva terá que tomar amanhã, domingo, ou durante a próxima semana, vai influenciar o ritmo do colapso ou da formação das bases sociais e políticas imprescindíveis à salvação nacional.
 

António Cerveira Pinto

NOTAS
  1. Cavaco avisou que novas soluções não dão as mesmas garantias que "salvação nacional". Jornal de Negócios, 19/7/2013, 21:44.
  2. E agora, o que vai o Presidente fazer? Público, 19/7/2013, 23:34.

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