Partido necessário

O Partido Democrata é necessário


Na realidade, reunir assinaturas é o menos complicado. O mais difícil mesmo é saber se queremos e para que queremos outro partido.

Para ter o mesmo tipo de representação? Certamente que não. Para ter os mesmos poderes orgânicos e alianças familiares que nos conduziram a uma caminhada inconsciente para o precipício? Definitivamente não!

A crise que atravessa a generalidade dos partidos que estão no poder, ou na oposição, e mesmo aqueles que nunca tiveram, nem têm aspirações credíveis de aceder à governação —em Portugal, como na generalidade dos países europeus— é muito profunda. Quantos estarão dispostos a votar em quem nos trouxe até aqui? O colapso económico, financeiro e social em curso é tremendo, continuará infelizmente a agravar-se nos próximos anos, e poderemos até, antes de 2015, escorregar para uma grave crise do regime.

Outra reflexão que motivou esta iniciativa é a de que é preciso responder ao ataque, sem precedentes, sistemático e continuado, que tem vindo a ser perpetrado contra as chamadas classes médias.

Os profissionais liberais, funcionários públicos qualificados, e os empresários industriais e de serviços cujos negócios não entram, nem na esfera dos monopólios e cartéis, nem muito menos fazem parte do privilegiado setor financeiro cuja voragem é uma das causas desta crise, estão a ser violentados por um ataque fiscal sem precedentes. O ataque começou no início deste século, protagonizado pelos sucessivos governos que estiverem ao leme do país, e continuará a sua senda de brutal destruição de carreiras profissionais, empresas e poupanças, mesmo depois da Troika se ir embora. Se nada fizermos, claro!

O jogo de passa-culpas entre os partidos com assento parlamentar é um inqualificável e inadmissível teatro de sombras. Todos têm responsabilidades no estado a que o país chegou.

Os poderes instalados, na sua maioria reféns da distorção oportunista das teorias macro-económicas de Keynes, ao não atacarem a raiz financeira especulativa dos problemas, nem sequer dedicarem um minuto do seu tempo ao estudo das causas da presente situação, acabaram por dirigir contra as classes médias —principal base de sustentação das democracias evoluídas— sucessivos programas de austeridade e acosso fiscal, ao mesmo tempo que permitem a persistência de vantagens ilegítimas, lucros escandalosos, e mordomias obscenas aos que tanto lhes dá viver em democracia como em ditadura.
 

A riqueza material que consumimos e usamos é cada vez menos produzida por nós, e cada vez mais importada. Em vez de atacar as causas desta deriva insustentável, os partidos do poder, todos eles, têm preferido, de uma maneira ou doutra, autorizar o saque da poupança nacional e a alienação sem precedentes de recursos naturais, económicos e humanos.

Pior: o governo em funções tem levado a cabo, de forma atabalhoada e ao desbarato, a alienação do que resta de recursos estratégicos do país, em vez de proceder a privatizações (totais ou parciais) de forma ponderada e impondo sempre o necessário condicionalismo inerente à defesa do interesse nacional e do bem comum.

A situação chegou a um impasse: sem trabalho e sem poupança, nenhum contabilista de última hora poderá fazer o tão esperado milagre.

Se retirarmos o trabalho às pessoas, retiramos também o seu rendimento, e retirando o seu rendimento, destruímos a parte dinâmica da base contributiva da democracia. Restará depois desta azáfama fiscal que continua a poupar os que mais impostos sobre a riqueza aqui produzida transferem para outros países e paraísos fiscais, a tentação de assaltar, pura e simplesmente, e como noutros tempos históricos ocorreu, a poupança dos que não sabem ou não podem defender-se do confisco.

Sobem-se os impostos, morrem isenções justificáveis, eliminam-se postos de trabalho, desligam-se as famílias e ataca-se a propriedade. A receita é intolerável. A democracia, para sobreviver, terá que responder com clarividência pragmática a esta provocação civilizacional.

É para evitar este fim trágico, que é urgente discutir sem medo os fundamentos e a possibilidade da próxima democracia. A que temos encontra-se muito doente e já sem os anticorpos necessários para combater a gangrena que a vem tolhendo a uma velocidade assustadora.

Portugal está no limbo de uma bancarrota suspensa. Se a Troika suspender o envio de mais dinheiro, invocando com motivo válido o incumprimento português do Memorando que permitiu o resgate do país, Portugal cairá inexoravelmente na bancarrota e numa imensa tragédia social, política e cultural.

Retomar o caminho da dignidade, isto é, evitar novas ditaduras, implica substituir os responsáveis pelo colapso em curso, e significa mudar radicalmente as figuras e as estruturas deformadas que permitiram assentar uma democracia em tão frágeis fundações!

Partido Democrata

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